27 de dezembro de 2006
A lgonso Cuarón, diretor de cinema mexicano, erra feio a mão em Filhos da esperança (Children of men; 2006). Ele falsificou o romancista inglês Charles Dickens em Grandes esperanças (2000). Teve um certo brilho narrativo em E sua mãe também (2001). Naufragou no comercialismo ao rodar um dos filmes da série Harry Potter. E pode-se dizer que Filhos da esperança é seu projeto mais ambicioso; mas quase nada funciona nesta visão do futuro que Cuarón ambienta na Inglaterra, uma Inglaterra tão estranha em seus cenários destruídos e picotados quanto assustadora nos dias sombrios do porvir que nos aponta.
Se em Fonte da vida (2006), de Darren Aronofsky, a megalomania filosófica impera e ridiculariza os resultados finais, em Filhos da esperança a derrocada é anunciada por uma pretensão social e política descaracterizante e que torna a montagem muito opaca. Clive Owen como o protagonista não logra impor uma persona interpretativa que valide as intenções do filme, apesar de seu esforço de intérprete; é a estrelinha Julianne Moore, enquanto sua personagem não morre, quem dá charme a certos instantes da imagem.
Mas tudo o que pode haver de curioso aqui e ali ao longo de Filhos da esperança é muito pouco diante da confusão que minuciosamente o realizador mexicano arma diante do espectador perplexo.
Por
Eron Fagundes