12
de dezembro de 2005
Flores
partidas (Broken flowers; 2005), o novo filme do
norte-americano Jim Jarmusch, é caracteristicamente
uma metáfora dos próprios sentimentos
do espectador diante do estágio atual da arte
de Jarmusch. Que é que o tempo fez deste estilo
de filmar que na década de 80 se perpetuou
em obras-primas como Estranhos no paraíso (1984) e Trem
mistério (1989), narrativas
intensamente reflexivas e experimentais. Hoje, ao
darmos com Sobre café e cigarros (2003) e
este Flores partidas, a impressão é bem
esta, de que a flor estética do cineasta se
partiu.
Em
Flores partidas Jarmusch coloca em cena um homem
maduro, melancólico e solitário, que
faz uma viagem à procura de suas ex-amantes,
para descobrir um possível filho; as andanças
da personagem de Bill Murray (bastante inexpressivo)
são também um símbolo que é o
olhar do observador pelo celulóide atual de
Jarmusch: um itinerário sentimental do passado.
Constatamos
o anacronismo de um grande cineasta e nos entristecemos.
Aparentemente ali está tudo
o que fez a glória de Jarmusch, seu inconformismo,
sua linguagem lenta e elaborada; mas o vazio rude
dos resultados obtidos apontam: já não
faz sentido filmar como Jarmusch, ele não
se atualizou.
Entre
aborrecido e nostálgico, Flores partidas
arrasta-nos precipício abaixo de um cinema
natimorto.
Por
Eron Fagundes