HOLLYWOOD EDULCORA A IRREVERÊNCIA

Segunda, 14/04/2003

A pintora mexicana Frida Kahlo foi um destes vulcões que surgem no mundo para retirar os indivíduos de seu marasmo.

A cineasta norte-americana Julie Taymor dá sua versão hollywoodiana da vida da artista em Frida (2002), interpretada por Salma Hayek, igualmente produtora da empreitada cinematográfica.

Certa vez o realizador mexicano Paul Leduc fez um iconoclasta e experimental Frida (1984), em que o universo pictórico da artista era capturado em novíssimas e cruzadas imagens. O atual Frida está longe disso. Prefere, como correto produto de Hollywood, edulcorar o caráter contestatório da personagem, enveredando por tiradas melodramáticas e superficializando as questões políticas em torno.

Os relacionamentos de Frida com o renomado pintor Diego Rivera e com o revolucionário russo Leon Trotsky assassinado no México num evento mal mostrado pela realização ocupam o miolo da narrativa. Desperdiçando a oportunidade de debruçar-se sobre a tenacidade de um ser humano incomum, o filme navega em obviedades fáceis demais. Ao gosto do público, certamente.

Por Eron Fagundes