A GRANDILOQÜÊNCIA DE YAMAZAKI
 

 

20 de setembro de 2005

Mais de duas décadas depois, a cineasta brasileira de origem nipônica Tizuka Yamazaki volta ao tema da imigração japonesa que lhe rendeu seu primeiro e mais acabado filme, Gaijin, caminhos da liberdade (1980). Em Gaijin, ama-me como sou (2005) a realizadora busca ampliar a questão da miscigenação racial brasileira; o casamento dum descendente de italianos com a filha de orientais vai produzir uma estranha e perdida quarta geração.

Ao longo dos anos, voltada para a direção de telenovelas, parece que Yamazaki perdeu os consideráveis questionamentos sociais que havia em seu primeiro filme; sobrou um melodrama grandiloqüente, onde o preciosismo caligráfico da diretora para a reconstituição de época é apreciável. Yamazaki tem um sentido de cinema muitas vezes mais apurado que aquele do gaúcho Paulo Nascimento em Diário de um novo mundo (2005); mas pouco adianta tanto tecnicismo se a realização escorrega facilmente para a superficialidade.

Outro ponto falho no novo Gaijin é a falta de espontaneidade com que os diálogos são ditos A dublagem imposta aos personagens da atriz norte-americana Tamlyn Tomita e do peruano Jorge Perugorría é horrorosa e destrói com a capacidade de comunicação e emoção das criaturas em cena.

É pena tanto desperdício de capitais. Lembro o antigo Gaijin como uma obra que tirava sua emoção da veracidade de suas situações. Vinte e cinco anos depois, o novo Gaijin transformou a emoção em melodrama fácil e cai aqui e ali no artificialismo duma encenação grandiloqüente e vazia.

Por Eron Fagundes

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