14 de dezembro de 2006
O cineasta sueco Ingmar Bergman rodou um filme definitivo sobre o universo dos mágicos e o contraste deste universo com o mundo racional e científico, O rosto (1958). Christopher Nolan, endeusado pelos curtidores de cacoetes narrativos com pretensões de revolução formal, está muito longe da genial profundidade de Bergman, e seu O grande truque (The prestige; 2006) é na verdade frustrante como evocação da magia no cinema.
Os vaivéns das vidas pessoais de dois mágicos inicialmente parceiros e depois inimigos mortais (a partir do nefasto número em que a esposa de um deles, por falha ou artimanha do outro, morre em pleno palco) vão preenchendo os cento e trinta minutos de projeção que poderiam ser melhor condensados se Nolan tivesse a habilidade da montagem ou se valesse de um montador inteligente; assim como está, o embrião de O grande truque — mostrar que o vezo profissional do mágico se expande para todos os compartimentos de sua vida, tornando-o um mentiroso irrefreável — não chega a frutificar, morrendo de feto já.
De qualquer maneira, se o roteiro é meio enviesadamente perdido, os atores salvam uma parte da produção. Christian Bale e Hugh Jackman saem-se bem dos papéis centrais. E é bom rever Scarlett Johansson no melhor de seu misterioso charme, depois da figuração um tanto opaca que ela teve em A dália negra (2006), de Brian De Palma.
Por
Eron Fagundes