21
de junho de 2005
Quem
diria! O melhor da realização anglo-americana O
guia do mochileiro das galáxias (The hitchhiker’s
guide to the galaxy; 2005) é a voz de um ator brasileiro,
José Wilker, que acompanha com grandiloqüente sarcasmo,
em perversa voz-over, a derrocada final do ser humano na terra.
A fala de Wilker está na versão brasileira de um
filme que no restante é legendado. Garth Jennings dirige
esta película ambiciosa e danadamente superficial extraída
dum livro do inglês Douglas Adams, que foi auxiliar de
roteiro em alguns do grupo cômico britânico Monty
Python; o espectador não tardará a achar semelhanças
entre a aventura desventurada do mochileiro e os velhos trabalhos
dos Python: pretensão apocalíptica e ironia mal
alinhava em seu escracho.
O
filme não chega a aborrecer. É um entretenimento
fácil com coisas de preocupação do mundo
de hoje. O que entrava mesmo a fluência da idéia
geral da narrativa são os usos abusivos de auto-reflexões
que se perdem nos exageros fantasiosos de todo o processo fílmico.
Fica difícil crer na veracidade juvenil de uma trama que
gostaria de estabelecer certos sentidos finais para nossa existência
na terra.
Paradoxalmente,
O guia do mochileiro das galáxias é uma
prova de que a inteligência pretensiosa do homem é muitas
vezes pura pretensão, como já se diz no início
do filme comparando-nos com os doces e espertos golfinhos. Faltou
filmar como se o diretor fosse mesmo tão ágil e
engenhoso quanto um golfinho.
Por Eron Fagundes
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