Que importa o pensamento num mundo de imagens? Que importa a idéia se o importante é entreter? Boa parte dos meninos deste início de milênio pode estar tendo sua iniciação cinematográfica e literária ao deparar com as aventuras do garoto-bruxo anglo-saxão Harry Potter, criado pela inglesa J.K. Rowlinng em páginas de livros e que está sendo levado aos cinemas pela máquina de entreter que é Hollywood. Que importa? O importante é ver, deixar os olhos correrem; os planos deslizam convencionalmente na tela, as situações triviais amontoam-se. Que importa, se no cinema o que importa é entreter? Que importa estabelecer as diferenças entre os livros e os filmes, entre os livros entre si, entre os filmes entre si, se o entretenimento puro, simples, rasteiro é a base de toda esta picaretagem da mídia livresca-visual?
O segundo filme da série, Harry Potter e a câmara secreta (Harry Potter na the chamber of secrets; 2002), chegou para açodar a garotada e meter dinheiro nas máquinas dos exibidores e distribuidores. O diretor Chris Columbus é o mesmo do primeiro filme, e resolveu investir numa narrativa mais perversa e escura, o que não lhe dá nenhuma garantia de profundidade, nem garantia de seriedade.
Para que se vai perder muito tempo analisando um filme em que não muita coisa para analisar, se o que interessa num filme assim é uma relação lúdica e acrítica com um determinado tipo de espectador. Harry Potter e a câmara secreta, livro e filme, tem seus defensores crítico; são aqueles que confundem imaginação com escapismo, inteligência com esperteza. A fauna de Harry Potter poderia lembrar às vezes o universo do cineasta italiano Federico Fellini; se Fellini quisesse vender sua alma ao diabo, como muitas vezes foi tentado, poderia ter entrado na indústria, mas estaria despersonalizando-se como diretor de cinema. Chris Columbus é antes um artesão que um diretor de cinema; e ele faz tudo tão certinho, com aquela correção hollywoodiana, que vemos seus filmes sem aborrecimentos. Somos todos -das crianças ao mais intelectualizado espectador-colonizados.
Por
Eron Fagundes