23
de agosto de
2004
Para
justificar as bobagens escritas, diz-se que o papel aceita tudo.
O espectador que vai muito a cinema sabe que a tela em que se
projetam filmes igualmente aceita tudo. Quando se pensa que já se
viu tudo o que de deformante pode apresentar uma narrativa cinematográfica,
eis que sempre algo pior aparece diante de nós; Hellboy (Hellboy; 2004), produção norte-americana dirigida
pelo mexicano Guillermo del Toro, supera tudo o que de artificiosa
chuva de parafernália visual os espetáculos de
super-heróis têm empurrado pelos olhos indefesos
das platéias colonizadas pelo cinema de ação
segundo modelo de Hollywood.
Muito
barulho vazio é o que deparamos em Hellboy. A deformada
caracterização de Ron Perlman como o protagonista
de aparência diabólica mas coração
terno não é suficiente para manter o interesse
de um público que exige do cinema algo mais do que ações
rasteiras das personagens; enxertando em sua aventurinha esquisita
e ruim criaturas históricas como o russo Rasputin e entes
do nazismo alemão, Del Toro envereda por um filme de horror
que é o próprio horror de nossa visão – como
encarar com serenidade tanta desconsideração para
com o cérebro do assistente, mesmo que este assistente
seja um adolescente a quem os produtores endereçam sua
torpe mensagem.
As
tiradas filosóficas que abrem e fecham a fita (referências
a questões essenciais como a origem dos seres) são
pretensiosas e ridículas para um projeto que só se
interessa pelo espectador como consumidor de qualquer coisa.
Se a tela aceita a luz que vem do projetor, é porque de
alguma maneira isto também, e infelizmente, deve ser cinema.
Por Eron Fagundes
|