IMPULSO FRACO
 

 

14 de março de 2006

Impulsividade (Thumbsucker; 2005), dirigido por Mike Mills, tem alguma coisa das estruturas dos pequenos filmes americanos que seguem à margem da grande indústria: sem grandes arroubos temáticos e formais, modesto na aparência de seu orçamento, desvinculado de uma pretensão comercial mais clara, satisfaz-se com ir contando uma história de uma maneira simples e com uma objetividade dura que remete aos filmes jornalísticos made in U.S.A. na década de 70, cuja origem ou matriz mais remota seria o clássico A sangue frio (1967), do norte-americano Richard Brooks.

Mas falta muito para que Mills possa aspirar à linhagem de Brooks. A objetividade narrativa de Mills é obtusa: ele pretende conferir a seu roteiro ares de inteligência reflexiva; mas a excessiva linearidade de seus quadros cinematográficos, além de tornar tudo muito previsível, faz com que a inteligência saia mofada do lado de cá das câmaras.

O tema escolhido por Mills, a partir de um livro, até que é apaixonante: um adolescente desvenda o mundo; ; este adolescente, apesar de suas qualidades intelectuais, apresenta um problema, chupa o dedo, como se fosse um bebê. Os aspectos de filme familiar, americaníssimo, do trabalho de Mills nasce das relações, mais ou menos óbvias, do adolescente com sua família; há ainda seu dentista, o professor, os colegas, uma garota, tudo tratado de maneira frívola, imperturbavelmente frívola. Se o tema é bem escolhido, o elenco por via de regra é um dos problemas de Impulsividade: a exceção é Tilda Swinton, maravilhosa como a mãe do adolescente; Lou Taylor Pucci na pele do rapaz chupão é levado a um desempenho estereotipado, uma linha reta interpretativa, algo incomodamente tolo; Keanu Reeves é o canastrão de sempre.

Creio que Impulsividade é uma baixa da atual temporada de cinema. Quando o ano já se anunciava em bons ventos com títulos expressivos como Ponto final (2005), do americano Woody Allen, Feira das vaidades (2004), da indiana Mira Nair, Orgulho e preconceito (2005), do inglês Joe Wright, e O segredo de Brokeback (2005), do chinês Ang Lee, surge Impulsividade para atrapalhar.

Por Eron Fagundes

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