A PAIXÃO BRASILEIRA
 

 

26 de março de 2007

Na apresentação de A paixão do futebol (1976), coletânea de crônicas publicadas em jornais em 1970 e 1971 pelo jornalista gaúcho Ruy Carlos Ostermann, o crítico e poeta Paulo Hecker Filho observa: “E como os brasileiros, para aumentar os nossos pecados, estamos em peso nessa do futebol, Ruy representa um serviço de utilidade pública.”
O filme Inacreditável, a batalha dos aflitos (2006), dirigido pelo gaúcho Beto Souza, pode ser enquadrado no conceito de Hecker: serviço de utilidade pública. Tentando recapturar a saga heróica do Grêmio no jogo final contra o Náutico, no Recife, quando o Grêmio voltou da 2ª Divisão para a Divisão de Honra do campeonato brasileiro de futebol, Souza serve-nos como utilidade pública. Gaúcho e gremista, não tenho como não emocionar-me com a reconstituição daquele jogo de novembro de 2005 que então acompanhei com olhos esbugalhados e coração na mão.

É pena, todavia, que Souza seja um diretor míope, vesgo mesmo, sem a habilidade do carioca Murilo Salles em Todos os corações do mundo (1995). As entrevistas às vezes parecem incautas, infantis mesmo, e coladas na montagem sem criatividade. Lamenta-se, pois o material serviria para um épico gaúcho. Um dos entrevistados é o cineasta gaúcho Jorge Furtado, gremista; outro entrevistado é Carlos Gerbase, cineasta e gremista, que estava viajando para um Festival de Cinema da Índia no dia do jogo e sua narrativa de peripécias pessoais diante da partida demonstra que ele (e isto valeria também para Furtado) saberia fazer coisa bem melhor do material à disposição.

Por Eron Fagundes

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