A COMICIDADE DE ÉPOCA
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15 de agosto de 2005

A despeito duma caprichada mas asséptica reconstituição de época, a realização cinematográfica Inconscientes (2004), dirigida pelo espanhol Joaquín Oristrell, se perde na frouxidão do humor negro em cena voltado para divertir-se com o florescer da psicanálise no sofisticado mundo de Barcelona, na Espanha, na segunda década do século XX; para uma cinematografia como a espanhola, cuja história apresenta o humor perverso de Luis Buñuel e a tragicidade profunda de Carlos Saura, Oristrell é um pretensioso que decepciona: sua narrativa arrastada e os trejeitos artificiosos que ele impõe a seus intérpretes liquidam com qualquer prazer do espectador.

No universo multifacetado que a narrativa vai acompanhando, aparece em cena igualmente a própria figura de Sigmund Freud numa suposta visita a Barcelona. As aparições públicas do pensador da psicanálise simulam as atenções que hoje em dia se dão a astros da mídia; era um tempo em que o intelectual era considerado um holofote da sociedade; atualmente o intelectual não serve para nada, senão para chafurdar num cemitério de idéias sem validade.

À margem da todas estas questões, um filme como Inconscientes peca por pose excessiva. E esta pose centraliza-se basicamente nas interpretações maneiristas de Luis Tosar e Leonor Whatling.

Por Eron Fagundes