18
de outubro de 2005
O
cineasta norte-americano Terry Gilliam integrou o
grupo de comediógrafos do famigerado grupo
inglês Monty Python. E aquele humor escrachado
e barroco, desequilibrado muitas vezes, irreverente
sempre, acabou por marcar os filmes que rodou sozinho:
Gilliam é um americano influenciado pelo formalismo
britânico de seus companheiros de farra visual
da década de 80.
Em
seu novo filme, Os irmãos Grimm (The brothers
Grimm; 2005), Gilliam volta-se para a personalidade
literária de dois escritores germânicos
irmãos do século XVIII, tentando fundir
aspectos de sua vida na sociedade da época
com elementos de seu imaginoso universo de ficção:
o resultado se desequilibra facilmente, pois os exageros
da fantasia estão mais para a superficialidade
da série Harry Potter do que para uma apurada
investigação de como a fantasia determinava
os rumos da sociedade de então.
Os
Grimm (Jacob Ludwig Carl Grimm e Wilhelm Carl Grimm)
foram um caso incomum de dois indivíduos
que formaram uma personalidade literária única.
A literatura é uma arte individualista, é a
arte do ego por excelência; no cinema irmãos
cineastas que formam um único ser é algo
mais freqüente (os Coen, os Taviani), mas o
cinema tem uma forma de manifestação
mais coletiva, capaz de dissolver um pouco os egos;
creio que os Grimm chegam ao cinema como uma paródia
dos atuais manos-diretores.
Sem
muita inspiração, a obra rodada
por Gilliam circula em torno dos clichês, devendo
satisfazer o público mais conformista. Gilliam
caricaturiza sua direção de atores,
tornando Matt Damon (que vive Wilhelm) e Heath Ledger
(o intérprete de Jacob ou Jake) dois maneiristas
palhaços de cena. A participação
da bela atriz italiana Mônica Belluci no papel
da Rainha Má (Mônica é especialmente
lembrada pela dura e intransigente seqüência
no filme francês Irreversível, 2002,
de Gaspar Noé, em que sua personagem foi impiedosamente
estuprada) só serve mesmo para edulcorar uma
narrativa falhada.
Por
Eron Fagundes