AMIZADE VIRIL?
 

 

03 de setembro de 2007

Há alguma coisa de amizade viril na forma como os realizadores israelenses De Vidi e Dália Hager retratam a afeição que surge entre duas moças que, prestando serviço militar, patrulham as ruas de Jerusalém, em Uma juventude como nenhuma outra (Karov la Bayit; 2005). O andar de crônica da juventude feminina israelense percorre cada passo da narrativa, que oscila entre uma objetividade linear e um esqueleto fílmico engessado, nada maleável; apesar das interpretações bastante simpáticas de Neanna Shendar e Smadar Sayar (estamos sempre com a impressão de familiaridade de seus rostos, a doçura de Sayar e a rigidez contida de Shendar parecem já vistas em algum recanto do Brasil), o filme não se solta, não deslancha, o gesso formal dos cineastas impede o vôo.

Mas ainda sobra alguma criatividade formal nesta realização feita por dois nomes que, é claro, não têm a sensibilidade de Amos Gitai, o diretor mais conhecido do cinema israelense. A seqüência final dá a medida das possibilidades de invenção dos realizadores se optassem por soluções menos óbvias e evitassem o medo de incorrer em obscuridade. Após uma abordagem onde o indivíduo se rebela contra as duas policiais e começa a ser agredido por uma multidão que vem em defesa das garotas, vemo-las a andar numa moto, a imagem aparece e desaparece diante da luz ofuscante do sol (ou dos refletores usados), na faixa sonora enquanto a moto se desloca ouvimos aquilo que a imagem deixou elíptico, é o som  que narra. Uma solução engenhosa que, infelizmente, o filme nem sempre soube dela valer-se.

No balanço, uma obra de que vale a pena desfrutar, mesmo que ela recuse dar-nos toda a emoção estética prometida a cada plano: vai até certo ponto e depois recua.

Por Eron Fagundes

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