09
de maio de 2005
A condução
da personagem obsessiva do cientista norte-americano Alfred Kinsey
no filme Kinsey, vamos falar sobre sexo (Kinsey; 2004), de Bill
Condon, vai-se transformando, com o andar da narrativa, num arquétipo
pedante que acaba por tornar superficial o que poderia ser um
estudo irreverente do conservadorismo ianque. O ator Liam Neeson,
na pele de Kinsey, tem um desempenho rico, cheio de detalhes;
o argumento inicial, digamos desta maneira –um homem só é verdadeiramente
um homem quando em sua vida há pelo menos uma obsessão;
o resto é animal--, desperta pensamentos no espectador
mais interessado, mas faltou mesmo uma direção
inventiva a Condon, mais um destes cineastas de Hollywood que
se fiam na excentricidade de seus temas para impor uma pretensa
novidade cinematográfica.
A
realização pode ser vista sem aborrecimentos
e com algum proveito por quem se dispuser a pensar. Colocado
num tempo em que dizem que o sexo chega a ser enfadonho de tão
liberado, o filme talvez nos diga que o sexo falado ainda pode
abrir nesgas em nossos preconceitos; mas deixa uma inquietante
abertura: podemos ter a ciência do sexo, mas não
a ciência do amor, pois este não pode ser medido,
daí a ignorância sentimental geral.
Por Eron Fagundes
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