EXPONDO O CINEMA AO RIDÍCULO
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25 de julho de 2005

Não surpreende que a realização chinesa Kung-fusão (Gong fu; 2004), dirigida, escrita e interpretada pelo chinês Stephen Chow, tenha conquistado as platéias habituais dos cinemas. Ali estão os elementos de que o cérebro médio dos habitantes das salas escuras gostam irreversivelmente: pancadaria fácil que gera um humor igualmente fácil. De que riem os bobos nas poltronas? Das piadas visuais e verbais mais batidas que há por aí: nenhuma invenção, nem como uma comédia pastelão. É a armação óbvia do gargalhar como necessidade biológica de quem vai a um espetáculo: divertimento confunde-se com o riso, ainda que tolo e medíocre.

Kung-fusão alinha-se na moda atual dos filmes de artes marciais, iniciada nobremente com O tigre e o dragão (2000), do chinês Ang Lee, e prolongada por Herói (2002) e O clã das adagas voadoras (2004), ambos do chinês Zhang Yimou, e Zatoichi (2003), do japonês Takeshi Kitano. Apesar dos repuxos formais de Chow,e de suas tentativas de imitar o norte-americano Quentin Tarantino em cenas de escrachada violência, Chow está longe do sopro lírico de Yimou e falta-lhe a categoria que Kitano apresenta mesmo quando, como em Zatoichi, exibe um formalismo até certo ponto estéril. Chow é o show da imbecilidade do público: toda a patifaria a que o espectador de cinema tem direito.

Inegavelmente uma película como Kung-fusão expõe o cinema ao ridículo, para além de ser um irremediável mau filme.

Por Eron Fagundes