A INCONSISTÊNCIA DE LABUTE

O realizador norte-americano Neil LaBute tem chamado a atenção dos cinéfilos por realizar, no seio da grande indústria, uma narrativa fílmica desglamurizada e dotada de alguma inteligência e vigor crítico. Sua habilidade diretiva pôde ser melhor apreciada em Seus amigos, seus vizinhos (1999), uma patética visão do cotidiano em que até uma estrela como Nastassja Kinski aparece despida de artifícios.

O atual Enfermeira Betty (Nurse Betty; 2000), conquanto ainda mantenha um certo frescor da visão de mundo de LaBute, faz evidentes concessões ao cinema de Hollywood. A atriz Renée Zellweger, a mesma intérprete do insosso O diário de Bridget Jones (2001), de Sharon Maguire, tem um desempenho curioso, mas em que o cineasta não logrou evitar certos tiques demasiadamente fáceis visando a paparicar o público habitual dos cinemas cujo olhar é colonizado pela maneira americana de ver. Superficialidade e esforço crítico se misturam nesta trama em que uma garçonete se traveste de enfermeira e ruma para Los Angeles em busca da personagem de um ator de telenovela.

A confusão entre realidade e ficção armada por LaBute remete a um clássico ianque dos anos 70, Muito além do jardim (1979), de Hal Ashby, em que a criatura vivida por Peter Sellers zanzava como um autômato à sombra das imagens da televisão. Enfermeira Betty está bastante longe da acidez melancólica de Ashby, e sua jovem atriz não pode, como Sellers, um ator completo, sustentar o ritmo duma narrativa.

Por Eron Duarte Fagundes