O INTELECTO E A ANIMALIDADE NA CORTE LONDRINA
 

 

18 de julho de 2006

O escritor inglês John Wilmot (1647-1680), conde de Rochester, foi uma destas fusões típicas da Renascença européia onde as qualidades intelectuais e o rasteiro mundo da carne conviviam num único homem; outros exemplos: o italiano Giacomo Casanova e o francês Marquês de Sade. O libertino (The libertine; 2004), com direção do inglês Lawrence Dunmore, é uma cinebiografia do autor britânico; com requintados cuidados de fotografia e figurinos de época, a realização de Dunmore, roteirizada por Stephen Jeffreys com base numa peça teatral deste dramaturgo e roteirista, parece um destes voláteis quadros de antanho que não se fixam decisivamente na retina do espectador: bonito e inconsistente, o filme se resolve aqui e ali para logo dissolver-se em divagações de cinema literário e de escasso senso cinematográfico.

Todavia, o ator Johnny Depp, encarnando o apogeu e a dacadência do nobre sábio inglês, tem talvez seu mais notável desempenho numa tela de cinema. O auge da exuberância da personagem em seu convívio com as mulheres e depois sua decrepitude física precoce decretada por sua doença final são captados pela precisão e pela paixão da interpretação de Depp. Mas O libertino está longe de ser tão sedutor e tão irreverentemente sarcástico quanto seu protagonista; é somente um filme de época britanicamente bem produzido, maneirista muitas vezes, que mais promete do que cumpre com aquilo a que veio.

De qualquer maneira, sublinho a permanência daquela voz soturna e provocativa de Depp, num intenso primeiro plano fixo do final, martelando para os assistentes. “Do you like me now?”

Por Eron Fagundes

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