02
de janeiro de
2005
O cineasta
argentino Adolfo Aristarain, a quem devemos o vigoroso panfleto
político Tempo de revanche (1981) e o melancólico
filme de memória Um lugar no mundo (1991), é um
destes artistas do cinema cujo anacronismo de filmar às
vezes incomoda hoje em dia. Em Lugares comuns (2002) Aristarain
não tem a força de seus melhores dias, surge qualquer
coisa de ultrapassado em sua escrita que lhe faz perder o vigor;
certamente há o humanismo do realizador, sua afeição
pelo pensamento e pelas frases e imagens reflexivas e literárias
(seu protagonista é professor universitário e com
veleidades de escritor), há também o concurso de
um veterano ator tão extraordinário quanto Federico
Luppi (visto nos dois filmes de Aristarain citados e em Coração
de fogo, 2002, do uruguaio Diego Arsuaga, uma das melhores fitas
exibidas em Porto Alegre em 2003) –tudo converge para revelar
a estimada marca registrada do diretor.
Mas
a seiva narrativa de Lugares comuns se esvai à medida
que a projeção ocorre. O velho intelectual que
no fim do filme vem a falecer, ainda e sempre apaixonado por
sua companheira e deixando entre as heranças suas discrepâncias
com seu filho, é um símbolo da morte do cinema
praticado outrora com brilho por Aristarain, um cineasta que
filma com a melancolia de quem sabe que as “horas políticas” do
cinema talvez já se tenham ido, restando o vazio cinematográfico
dos dias que nos habitam.
P.S.:
2004 terminou e vamos às listas dum ano cinematográfico
medíocre em Porto Alegre. Os DEZ MELHORES, por ordem de
preferência: 1 – Dogville, de Lars Von Trier (O MELHOR
DO ANO); 2- Bill Kill, vol. 1 e vol. 2, de Quentin Tarantino;
3 – Garotas do ABC, de Carlos Reichenbach; 4 – De
corpo e alma, de Robert Altman; 5 – Moça com brinco
de pérola, de Peter Webber; 6 – Justiça,
de Maria Augusta Ramos; 7 – Noite de São João,
de Sérgio Silva; 8 – Elefante, de Gus Van Sant;
9 – 21 gramas, de Alejandro González-Iñarritu;
10 – Ouro marfim, de Jafar Panahi. Os DEZ
PIORES, por ordem
de ruindade: 1 – Com a bola toda, de Rawson Marshall Thurber
(O PIOR DO ANO); 2 – Xuxa abracadabra, de Moacyr Góes;
3 – Xuxa e o tesouro da cidade perdida, de Moacyr Góes;
4 – Alien vs predador, de Paul M.S. Anderson; 5 – Hellboy,
de Guillermo Del Toro; 6 – Lina de tempo, de Richard Donner;
7 – Sexo, amor e traição, de Jorge Fernando;
8 – De repente 30, de Gary Winick; 9 – Medopontocom,
de Wiliam Malone; 10 – Jogo de sedução, de
Matthew Parkhill.
Por Eron Fagundes
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