ACADEMICISMO DE LINGUAGEM EM CINEBIOGRAFIA
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13 de dezembro de 2004

Precedido de um barulho afoito promovido pelos meios religiosos interessados na divulgação de determinadas idéias teológicas, a produção germânica Lutero (Luther; 2003), dirigida pelo canadense Eric Till, abusa de toda a magnificência cinematográfica para tornar sua personagem central, o padre e pensador alemão Martinho Lutero (1483-1546), em algo palpável e de fácil identificação para o espectador de cinema. Longe de propor uma complexa análise de uma certa quadra histórica, o realizador adequa-se a uma linguagem cinematográfica acadêmica e pomposa para facilitar as coisas para o assistente superficial.

Na verdade, o espírito irreverente e iconoclasta de Lutero passa à margem das possíveis inquietações do filme. Revisitando os muitos conhecidos passos de Lutero em sua luta contra a hipocrisia católica de seu tempo, Till roda uma simples ilustração fílmica do que talvez tenha sido a vida da criatura cinebiografada; não me parece que haja qualquer diferença entre os golpes estilísticos e emocionais aplicados por esta realização alemã e certos surper-espetáculos hollywoodianos que tratam de desastres do nosso tempo, vistos num olhar de conjunto Hollywood e o Lutero que aqui se apresenta com a máscara teutônica não deixam de parecer uma coisa só, excertos que saem uns dos outros, tergiversações industriais para estereotipar a mente.

Toda a grandiloqüência do filme Lutero (muitas vezes estúpida e vazia) serve ao propósito pequeno de divulgação doutrinária. Dentro de parâmetros comerciais bem caracterizados.

Por Eron Fagundes