O CULTO DO HORROR
 

 

13 de agosto de 2007

As platéias que autenticamente cultuavam o horror cinematográfico estão depositadas nos anos 70 e 80. Hoje estes indivíduos talvez sejam quarentões ou cinqüentões quem sabe cansados do cinema. Não freqüentam, provavelmente. Os jovens deste princípio do século XXI estão saturados de horror na própria vida contemporânea: o horror produzido pelo cinema não lhes diz muita coisa. Acho mesmo que o horror fílmico hoje em dia é um culto de cinéfilos; muito mais uma questão de linguagem que aquelas assombrosas histórias das décadas referidas acima. Eram décadas tão peculiares que até o cinema metafísico do sueco Ingmar Bergman buscava substratos formais no horror, como a irmã morta rediviva que sai do leito para perturbar a intranqüilidade das outras irmãs em Gritos e sussurros (1972), como num pesadelo.

Papo demasiado, concedo, para iniciar um texto que trate de um dos mais detestáveis filmes de horror dos últimos anos e de todos os anos, Luzes do além (White noise 2: the light; 2007), de Patrick Lussier, uma das negativas cinematográficas do ano. Mas este é um truque exposto (no mesmo sentido de fratura exposta) de minha maneira de escrever: quando não há muito a dizer sobre a mediocridade, tergiversemos. Há quem critique o método, pois ele contém suas sujeiras; eu, porém, continuo a agir assim, sou teimoso, mesmo que corra o risco de converter o estilo em maneirismo. Diversamente do cineasta gaúcho Davi de Oliveira Pinheiro, que, cinemaníaco de horizontes vastos, tem uma queda pelo filme de horror, num primeiro momento tenho resistência ao gênero (da mesma maneira que muita gente resiste e repugna ao cinema intelectual conversado do francês Eric Rohmer), embora, é claro, saiba render-me às fantasmagorias mais inventivas, como aquelas do norte-americano George A. Romero; no pólo oposto, uma produção de horror desleixada e vazia me tira a paciência de espectador. Luzes do além é o caso deste disparate em grau máximo; a história é uma tolice sem par e as trucagens da realização são estas fantasias soltas mal resolvidas que acabam por cansar o observador.

Os elementos demoníacos da história que busca acompanhar o que se passa na mente do protagonista depois de ter a esposa e o filho assassinados por um maníaco, são frágeis; suas possibilidades de arrepiar o pêlo do espectador são poucas e fúteis. Usando a premonição de morte de que é dotada sua personagem central, o filme de Lussier apela aqui e ali para umas referências religiosas e apocalípticas que só tornam o projeto tão pretensioso quanto ridículo.

Por Eron Fagundes

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