28
de fevereiro de
2005
O diretor
espanhol nascido no Chile Alejandro Amenábar, que assina
também a música da realização (como
já ocorrera em seu Os outros, 2001), utiliza e cores e
planos muito fortes, em Mar adentro (Mar adentro; 2004), para
acompanhar a tragédia de seu protagonista, Ramón
Sampedro, um ex-marinheiro que ficou tetraplégico num
acidente num mergulho e há vinte e oito anos está atado
a uma cama (ele rejeita a cadeira de rodas); incapaz de qualquer
movimento, sequer com as mãos, ele vai acionar a Justiça
espanhola para que permita que a medicina o ajude a praticar
a eutanásia.
Amenábar descreve energicamente o legítimo desejo
de morrer de sua personagem. Vencendo a barreira das questões
melodramáticas que se acercam das narrativas que se voltam
para assuntos do gênero (o pobrezinho paralítico),
Mar adentro mostra em Ramón um homem cuja vida segue adiante
apesar de tudo; antes de seu desfecho, a criatura vai envolver-se
sentimentalmente com a advogada de sua causa (que é portadora
duma doença degenerativa) e com uma radialista interiorana;
as contradições que surgem nas relações
que se estabelecem entre Ramón e as duas mulheres vão
estabelecer a complexidade do filme.
A
grande seqüência de Mar adentro é aquela
em que a mente de Ramón se solta para voar e a câmara
de Amenábar, cruzando a janela do quarto, vai descrever
um longo travelling-para-a-frente por entre montanhas e regiões
florestais; sublinhado pela música de Giacomo Puccini,
o intenso movimento de câmara vai produzir uma vertigem
na cabeça do espectador sensível à estética
cinematográfica.
Acrescentando-se às qualidades da obra, a interpretação
de Javier Bardem na pele de Ramón é uma peça
de antologia. Por Eron Fagundes
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