ATRAÇÃO EXÓTICA
 

 

15 de novembro de 2007

O olhar que a cineasta alemã Hermine Huntgeburth lança sobre um universo perdido no Quênia, em A massai branca (Die Weisse Massai; 2005), tem um colorido colonizador, exótico; é um capricho fílmico, como é um capricho o gesto erótico de sua protagonista, a suíça Carola (notavelmente vivida pela alemã Nina Hoss), que abandona seu namorado europeu para sair atrás de um negro queniano, Lemalian, por quem se sentiu fisicamente atraída desde o primeiro olhar e com quem viverá um tumultuado caso onde as diferenças culturais e uma filha são bagagens tão excêntricas quanto perturbadoras.

O filme tem alguns pontos bons. Um deles é seu clássico rigor formal que conduz com segurança uma história se vai estendendo para além de seus limites. Nina, a intérprete germânica do papel-título, sabe driblar os problemas da superficialidade de sua criatura; o que há de complexo vem da força e das sutilezas da interpretação e não do roteiro. A escolha de Jack Ido, um ator aborígene para o papel de Lemalian, confere autenticidade ao dueto interpretativo exibido pelo filme. Mas talvez estes detalhes mais sedutores da realização não sejam suficientes para retirar de A massai branca sua desajeitada visão européia para um mundo que não entende. Singelo e às vezes estereotipado em seus ajustes narrativos, A massai branca está longe de outro filme recente que tratou destes cruzamentos entre o primitivo e uma civilização mais refinada: O novo mundo (2005), do norte-americano Terrence Malick. Mesmo dentro de certos padrões clássicos de filmar, Malick faz um filme selvagem, natural, devorador em seus liames visuais; aquilo que mofa na imagem cinematográfica de Huntgeburth à medida que o olho do espectador se afasta no tempo da projeção, quando se trata de Malick brota em esplendores visuais. Talvez seja injusto estabelecer estas comparações para a diretora alemã; mas o cinema é assim, um filme está sempre diante de um outro filme na cabeça do observador.

Por Eron Fagundes

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