21
de fevereiro de
2005
O realizador
norte-americano Clint Eastwood tem construído contidos
melodramas, em que procura diferenciar a emoção
de sua direção cinematográfica por uma educada
retenção dos sentimentos, embora se valha de elementos
tão apelativos quanto o comum em Hollywood. Em Menina
de ouro (Million dollar baby; 2004) ele utiliza o boxe como símbolo
da transcendência e da violência americanas, colocando
em cena o ambíguo relacionamento entre um velho treinador
e uma candidata tardia (está quase na meia idade) a boxeadora;
o desfecho trágico da garota, envolvendo uma ação
compungida do homem, é ao mesmo tempo semelhante e diferente
de tantos golpes baixos aplicados pelo cinema americano: semelhante
porque a função do evento malfadado é simploriamente
angariar as lágrimas da platéia, um pouco diferente
porque o jeito de filmar de Eastwood vai secando estas lágrimas
com uma narrativa minuciosa e lenta.
Apesar de Eastwood, Hilary Swank e Morgan Freeman (que vive o
auxiliar do treinador e é usado como narrador-over do
filme) estarem ajustados e sensíveis nos papéis
principais, Menina de ouro é uma das realizações
menos interessantes do cineasta. As características melodramáticas
de que Eastwood não abdica eram melhor trabalhadas em
As pontes de Madison (1995), Cowboys
no espaço (2000)
e Sobre meninos e lobos (2002). Eastwood está muito longe
de ser o grande diretor apregoado pelos admiradores das convenções
narrativas de Hollywood; mas, como Martin Scorsese que se repete
e reafirma em O aviador (2004), tem o dom do cinema para nos
entreter por mais de duas horas sem ter muito o que dizer mas
igualmente sem aborrecer.
Por Eron Fagundes
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