O BRILHO FÁCIL DE HOLLYWOOD

Era previsível. Uma mente brilhante (A beautiful mind; 2001), de Ron Howard, era o candidato mais oscarizável para receber o prêmio de melhor filme do ano nos Estados Unidos. Sem o rigor meio saxâo de Robert Altman em Assassinato em Gosford Park (2001) ou a chuva de sutilezas armada por Todd Field em Entre quatro paredes (2001), a realização de Howard torna bastante superficial um tema complicado: a esquizofrenia que se apossa dum cérebro privilegiado, a dicotomia entre a atividade mental intensa dum homem e a precariedade de seus sentimentos, seus altos conhecimentos científicos contrastando com seu analfabetismo emocional.

Howard não é nenhum Werner Herzog, o cineasta alemão em cujas mãos personagens estranhas como o gênio retratado no filme americano renderiam algo mais do que uma produção cheia de concessões e simplificações. Segundo meu amigo Tuio Becker, Uma mente brilhante engana o espectador com sua capacidade de narrar neste início de ano marcado pela incompetência narrativa em imagens. A mim não enganou: Hollywood não sabe filmar as cabeças de exceção da sociedade americana.

A jogada comercial que é a festa do Oscar teve sua coroação no prêmio dado ao filme de Howard. Ambos (filme e festa) se merecem.

Por Eron Duarte Fagundes