VIVER VELOZ
 

 

10 de fevereiro de 2008

Lá pelas tantas, o protagonista de Meu nome não é Johnny (2008), de Mauro Lima, se queixa do cicerone italiano que o acompanha no passeio de barco por Veneza que o playboy faz com sua garota; numa tirada de filosofia jovem e rasteira, diz que se os poetas escrevessem neste ritmo, não comeriam ninguém. Seria uma justificativa para a narrativa rápida e frenética de Lima, os planos agilmente colados na tensão fílmica? Comer o maior número de espectadores?

Meu nome não é Johnny é um filme cheio de estereótipos, as personagens e as situações são propositadamente estereotipadas. De certa maneira, faz algo próximo de Tropa de elite (2007), de José Padilha, (um policial social com as armas do filme de ação à americana), mas sem as engenhosas soluções cinematográficas que Padilha adota para seu filme. O que torna sem efeito as provocações temáticas de Meu nome não é Johnny é a excessiva crença neste viver veloz defendido pelo protagonista; pode-se alegar que é um sofisma a assertiva da personagem e é bem possível adotar-se a reflexão como vida e comer muito mais gente que os drogados da zona sul carioca. Bom; entraremos numa discussão sobre o nexo causal no sexo.

Selton Mello é outra vez um ator extraordinário e humaniza a criatura do playboy mais do que aquilo que o roteiro poderia prover. Mas Cássia Kiss como a juíza e Cleo Pires como a namoradinha sexy têm desempenhos inconvincentes. Julia Lemmertz, em suas breves aparições como a mãe de João Estrela, compõe com adequados gestos sua criatura, comprovando que uma contemplação reflexiva poderia estabelecer um contraponto saudável aos equívocos deste policial ligeiro. Enfim, resta ainda um ar choramingas (melodrama) do filme para com sua personagem central, vista aqui e ali como um ingênuo pobre-coitado e não como o agente de seu destino que ele de fato foi.

Por Eron Fagundes

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