A INTERNACIONALIZAÇÃO DE FILMAR SEGUNDO HOLLYWOOD
 

 

20 de setembro de 2006

Miami Vice (2006), intenso filme de ação do norte-americano Michale Mann, propõe uma linguagem cinematográfica internacional a partir de Hollywood. O mais ilustre exemplo de um cinema internacional a partir da América é Intriga internacional (1959)< rodado pelo inglês Alfred Hitchcok na melhor fase de sua carreira; mas entre um artista muito pessoal como Hitchcock e um artesão às vezes brilhantes de Hollywood como Mann surge um abismo que a sensibilidade do espectador deve distinguir de maneira cristalina. Mann não é Hitchcock, mas sabe fazer um bom espetáculo e tem uma certa marca habitualmente ausente da direção dos artesãos da meca do cinema; Miami Vice deve conquistar até mesmo aquele espectador que resiste a embarcar facilmente em seqüências de ação vertiginosa, aquele tipo de ação que aparenta estar dizendo alguma coisa mas na verdade é formalismo comercial puro; Mann dirige com habilidade todos os ingredientes que compõem sua intriga internacional, os cenários que vão de Miami à Cidade do Leste e ao desolado interior da Colômbia, a grandiloqüência dos enquadramentos e dos movimentos de câmara, o uso de certas granulações de imagens digitalizadas, a precisão do corte e da montagem.

Contando com atores que vivem com correção os tipos durões duma Hollywood pós-pós-moderna (Colin Farrell e Jamie Foxx são as versões atuais daquelas rígidas e imbatíveis personagens que em tempos áureos eram vividas por Kirk Douglas, Ernest Bornigne ou Burt Lancaster), Mann faz de Miami Vice um espetáculo cinematográfico sedutor. Tudo é muito clichê, mas é muito americanamente bem feito; e para acrescer aos méritos da realização, a presença da estrela chinesa Gong Li, agora como uma financista internacional das drogas a anos-luz das ingênuas mulheres orientais que interpretou sob a batuta de seu ex-marido Zhang Yimou a partir da obra-prima O sorgo vermelho (1987).

Por Eron Fagundes

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