SPIELBERG SOFISTICADO
 

 

28 de abril de 2008

Quem diria. O milionário cineasta norte-americano Steven Spielberg, que nos anos 70 e 80 construiu sua fama e fortuna com filmes de uma fácil puerilidade (Tubarão, 1975; Contatos imediatos do treceiro grau, 1977; Os caçadores da arca perdida, 1981; E.T., 1982 -entre os mais famosos e rentáveis), tem dado uma virada em seu modo cinematográfico buscando um diálogo com um espectador mais adulto. A.I. Inteligência artificial (2000) mostrava que Spielberg talvez gostasse mesmo de um dia ser levado tão a sério quanto se leva Stanley Kubrick.

Mas nada supera o rebuscamento científico e técnico de Minority report, a nova lei (Minority report; 2002), extraído dum conto de Philip K. Dick, o mesmo que serviu de base para que o inglês Ridley Scott edificasse um dos clássicos da ficção científica no cinema, Blade runner, o caçador de andróides (1982). As complicações formais e temáticas da narrativa de Spielberg são muitas, embora todo seu esforço (dizem que ele se acercou de cientistas para dar cunho racional a seu trabalho) não retire a eterna superficialidade de seu cinema; os muitos efeitos especiais e uma aguda insistência nas facilidades da civilização da imagem (sem um ponto de apoio mais crítico), criando múltiplos níveis visuais, levam a linguagem geralmente simplória de Spielberg a uma surpreendente cerebração. Embora esta cerebração não sirva para muita coisa.

Uma das curiosidades é observar uma longínqua semelhança entre o destino do protagonista da fita de Spielberg e o que ocorre à personagem de Woody Allen em O escorpião de jade (2001), lançado concomitantemente na cidade. Sob a capa de ficção científica, o trabalho de Spielberg guarda pontos de contato com o gênero policial negro, homenageado por Allen em seu filme. Se a criatura de Allen acaba virando de investigador em alvo de suas investigações (pois cometeu o crime que está investigando), o ser de Spielberg passa de chefe dos policiais do Procrime a objeto de perseguição deles quando uma das videntes do serviço prevê que o policial-chefe vai cometer um assassinato.

Tom Cruise, que interpretou juntamente com sua então mulher Nicole Kidman o filme-testamento de Stanley Kubrick, De olhos bem fechados (1999), está de volta com seus trejeitos de galã para edulcorar o complicado espetáculo concebido por Spielberg. O ator sueco Max von Sydow vive uma estranha personagem que é quem trama a incriminação do policial-chefe vivido por Cruise;

Não se sabe aonde poderá chegar Spielberg em seu novo sistema fílmico. Apesar de não se distanciar do espetáculo hollywoodiano, conseguirá ele interessar seu público específico ao apor tantas complexas questões? A verdade é que estas questões, assim como estão em Minority report, tornam superficial toda possível discussão cinematográfica sobre os projetos futuros do mundo.

Por Eron Fagundes

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