25 de março de 2008
O ranço naturalista de Mutum (2007), dirigido pela brasileira Sandra Kogut a partir de trechos da novela Campo geral, do escritor mineiro João Guimarães Rosa, domina inteiramente a cena pela exaustiva e às vezes cansativa hora e meia de projeção do filme. Tendo feito um curioso documentário de investigação, Passaporte húngaro (2001), Sandra mantém em Mutum sua afeição pela documentação direta, sem outras nuanças formais que não a forte desglamurização de filmar; seu naturalismo nasceu já da pesquisa de locações e intérpretes e se estendeu por filmagens e montagem austeríssimas, mais do que secas, ressequidas.
Pouco há do universo verbal de Guimarães Rosa em Mutum. A ingenuidade física de encenação e diálogos torna a realização opaca, embotada, desbotada. A simpatia que se pode ter por este tipo de filme é problemática, estorvada mesmo.
O protagonista vivido por Thiago da Silva Mariz (a personagem chama-se Thiago) apresenta as vivências de desolados campos gerais vividos por muitos meninos brasileiros, pelo país afora, carregando mulas, convivendo com a família, a produção rural, os percalços da miséria e da doença (a morte do irmão de Thiago, por exemplo, uma experiência dolorosa na infância). É claro que o realismo documental de Sandra permitirá a muitos de nós uma identificação com o garoto. Mas é pouco para que Mutum saia dum precário limbo de honestidade para algo mais: o material é bom, mas faltou a Sandra a habilidade criativa do italiano Ermano Olmi para fazer destas pobres vidas um filme mais agudo e com a poesia que o cinema (mesmo direto) permite.
Por
Eron Fagundes