A NOTA E O FOTOGRAMA
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30 de junho de 2003

Nelson Freire (2003), o filme de estréia no cinema de João Moreira Salles, que realizou documentários para a televisão, entre eles o polêmico Notícias de uma guerra particular, é algo bom de ouvir: tem em cena um pianista extraordinário e espalha por sua faixa sonora partituras antológicas de sempre. Mas não decola como cinema: torna-se repetitivo como documentário e falta-lhe o salto da criatividade.

Pensemos, por exemplo, em Tônica dominante (2000), de Lina Chamie, uma narrativa ficcional com um certo jeito de documentário em que a realizadora busca interceptar estas relações entre duas linguagens, a do cinema e a da música. Onde Chamie é bem sucedida, emocionar pelo som e a imagem, Salles falha: sua articulação visual-sonora não nos contagia.

O tema é digno e torna-se problemático descartar uma realização que propõe o contato com o refinamento musical. Ao buscar uma virada em sua carreira, deixando de falar de um Brasil desagradável para mergulhar no Brasil mais elevado, Salles deve ser louvado por seu esforço; mas ainda tem um longo aprendizado para interessar o público por qualquer tema como o faz Eduardo Coutinho, o mais conceituado dos documentaristas do país.

 

Por Eron Fagundes