A MAGIA CINEMATOGRÁFICA DE BURTON
 

 

07 de novembro de 2005


Para quem já esqueceu, o realizador Tim Burton rodou um dos mais belos filmes americanos da década de 90, Edward, mãos de tesoura (1991), onde uma sensibilidade ingênua tocava uma profundidade para além de sua aparência. Em anos recentes Burton cometeu a horrenda refilmagem de O planeta dos macacos (2001). Ao observar sua filmografia, o analista dava com esta solitária ilha de frescor criativo que era Edward; não vi Ed wood (1994), bastante elogiado.

Agora, com A noiva-cadáver (Corpse bride; 2005), Burton retorna à sua melhor forma, onde o humor infantil e a plenitude da imaginação cinematográfica se dão as mãos para produzir uma realidade visual. O filme é uma animação de bonecos e apresenta a curiosa brincadeira de estabelecer o desenho de seus tipos em cena à semelhança física dos atores que lhes emprestam a voz (Johnny Deep, Emily Watson, Helena Bonham Carter – e, estendendo o delírio, Burton credita os nomes dos atores como intérpretes e não somente dubladores: esta é a ilusão magistral, narrar o filme como não se tratasse de desenho animado com bonecos); o cineasta vale-se de todo seu engenho para a armação dos planos, o efeito da montagem, criando um clima notavelmente onírico na realização.

A atmosfera gótica, de pesadelo imposta pelo estilo de filmar de Burton é muito pessoal. O excêntrico triângulo amoroso da história subverte todos os padrões de vilões e heróis a que anos de clichês cinematográficos nos habituaram; as relações (amorosas, familiares) entre vivos e mortos são mais complexas do que parecem, e a forma abnegada com que a noiva-cadáver renuncia a seu amor-vivo no final é um dos momentos tocantes no cinema este ano.

Enfim, nem tudo é bobagem no cinema de animação.

Por Eron Fagundes

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