O SHOW DE LÁZARO
 

 

23 de maio de 2007

O paí, ó (2007), produção baiana dirigida por Monique Gardenberg, utiliza o característica bairro do Pelourinho, em Salvador, para tentar realizar uma fusão de musical à brasileira (sambado e alegre, evidentemente) com um retrato meio singelo, meio ingênuo das principais mazelas sociais do país, como a miséria e o racismo. O ator baiano Lázaro Ramos, hoje um astro da mídia televisiva e cinematográfica, é o nervo de Ó pai, ó, aquele elemento que sustenta uma parte da narrativa, o funcionamento como um musical; Lázaro dá um show e é só o que importa neste filme arrevezado, que seria um desastre ainda maior em sua frouxidão se não fossem o vigor e o entusiasmo do intérprete.

É claro que há outras interpretações curiosas. Dira Paes é sempre uma presença confortável e inventiva em cena. Luciana Souza como a evangélica é uma caracterização notável. E há Stenio Garcia e Wagner Moura, este contracenando com Lázaro uma forte cena racista. Mas é como se houvesse um invólucro elaborado para um interior oco, sem miolo.

Filme extraído duma peça do Bando de Teatro Olodum, a extroversão de Ó paí, ó evoca aqueles sintomas vistos há tantos anos em A ópera do malandro (1985), de Ruy Guerra, baseado em texto de Chico Buarque de Holanda: brasileirissimamente superficial e constrangedor, a despeito de seus esforços de comunicação com o espectador médio do país.

Por Eron Fagundes

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