18 de novembro de 2007
Olhe para os dois lados (Look both ways; 2005), produção australiana dirigida por Sarah Watt, lembra certos aspectos de crônica desglamurizada em que o cinema australiano, como cinema de língua inglesa, tenta diferenciar-se de Hollywood; esta atmosfera entre o patético e o natural evoca os filmes mais antigos do australiano Bruce Beresford, como Adolescência dourada (1981).
Olhe para os dois lados tem uma estrutura tentacular como People, histórias de Nova York (2007), de Danny Leiner. O 11 de setembro da comunidade interiorana do filme australiano é um acidente de trem que mata mais de cem pessoas. A tristeza desglamurizada de todas as pessoas que cruzam diante das câmaras é a nota que direciona o filme, dando ora um tom desabusado, ora acordes mornos para o ritmo narrativo. O caso de amor entre a garota que viu o acidente e o jornalista-fotógrafo que vai entrevistá-la ajuda a costurar os elementos intercambiantes da fita. Sarah intercala seqüências de estranho desenho animado para dar um clima diferente à realização.
Olhe para os dois lados vem a tornar-se um pouco insosso em sua desglamurização, mas poderá emocionar este ou aquele espectador dependendo de sua catarse com os episódios encenados: se tiver perdido um pai (ou um familiar) recentemente, se tiver contraído um câncer, se tiver específicos problemas familiares ou sentimentais.
Por
Eron Fagundes