7
de junho de
2004
Para
o espectador que anda meio desacorçoado com as luzes excessivas
do cinema habitual, um filme tão anacrônico e sentimental
quanto Onde anda você (2003), realizado pelo cineasta brasileiro
Sérgio Rezende, apresenta uma boa dose de simpatia. Mas
a falta de vigor narrativo e os caminhos desajeitados de sua
linguagem cinematográfica impedem que o espectador se
interesse por seu andamento, arrastado, anêmico; o problema
central da realização de Rezende vem de problemas
morfológicos e não propriamente sintáticos:
o diretor adota uma gramática fílmica elegante
e correta, os atores são curiosos, o corte surge no momento
certo, há bonitos enquadramentos, mas o íntimo
da imagem parece desleixado, “escrito” com uma certa
deficiência em que alguma coisa foi comida pela “fala
cinematográfica” de Rezende. Não se trata
de uma idéia obscura sobre um filme simplório,
mas de uma constatação evidente: Onde anda
você empaca
na anemia de suas imagens, a despeito da experiência do
cineasta para montar seu filme.
Como
tantos outros trabalhos de cineastas importantes, Rezende apela
para um nostálgico jogo de memória. Um palhaço
profissional aposentado (Juca de Oliveira, correto) recebe a
notícia da morte de sua ex-mulher, Drica Moraes (que aparece
também cantando em cena), e a partir disto passa a conviver
com seu passado, inclusive a traição conjugal da
esposa com o parceiro dele de apresentações circenses,
um histrionicamente fantasmagórico José Wilker,
evocando a figura duma filha que poderia tanto ser do palhaço
quanto de seu parceiro. Uma certa ingenuidade forçada
atravessa o roteiro co-assinado pelo experiente Leopoldo Serran
e pelo próprio diretor. Aos trancos e barrancos, Onde
anda você avança para um final tão inócuo
quanto o próprio filme: o trio amoroso se encontra num
possível éden dizendo-se banalidades.
Por Eron Fagundes
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