UM RIGOR SOMBRIO SEM CONCESSÕES
 

 

4 de julho de 2007

Depois de investir no universo pessoal do político alemão Adolf Hitler em Moloch (1999), depois de se voltar para as inquietações do líder soviético Lênin em Taurus (2001), depois da navegação cinematográfica revolucionária que foi Arca russa (2002), o realizador russo Aleksandr Sokurov procura, em Pai e filho (2003), uma anônima relação entre um pai (incrivelmente jovem) e seu filho adolescente para expor seu cinema calculado, agudo, cheio de entrelinhas muita vez obscuras e recoberto por uma aura secreta de filmar que pode confundir e afastar o espectador habitual. Apesar de inserir-se num cotidiano mais terra-a-terra que são os conflitos de gerações, Sokurov não dá trégua para a capacidade de pensar do observador: nada é facilmente assimilável em cena, pois o que interessa ao cineasta é um mergulho estético nas relações humanas, algo tão digno e profundo quanto as investidas de gênios como o sueco Ingmar Bergman e o italiano Michelangelo Antonioni. Sokurov é desta estirpe e faz de Pai e filho uma narrativa densa, seca e áspera.

Pai e filho não será certamente de digestão tranqüila. Ele propõe dificuldades ao assistente. Mas, vencida a resistência comercial que nasce da preguiça, se converte numa experiência fílmica apaixonante.

Por Eron Fagundes

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