COLCHA DE RETALHOS DO LIXO
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15 de julho de 2003

A colcha de retalhos que é o filme As panteras 2: detonando (Charlie’s angels: full throttle; 2003), de McG, começa pela imitação da vertigem aventuresca de Os caçadores da arca perdida (1981), de Steven Spielberg: ação vazia. E as referências musicais e cinematográficas não param mais: A noviça rebelde (1965), de Robert Wise; Flashdance (1983), de Adrian Lyne; Os embalos de sábado à noite (1977), de John Badham; e por aí vai. O lixo que é o novo filme das panteras contenta-se com citar o lixo cinematográfico de todos os tempos: vivemos o auge da burrice humana, e nos enlodamos nela, imaginamos que isto nos faz bem e que a vida é assim mesmo, uma grande e superficialíssima bobagem.

As garotas Cameron Diaz, Drew Barrymore (a sempre evocada garotinha de E.T., 1982, de Spielberg) e Lucy Liu enfrentam a madurona vilã interpretada por Demi Moore, que ainda cuida ser a boazuda de outrora (não o é, todavia). Uma das curiosidades para o público brasileiro é a excêntrica participação de Rodrigo Santoro, ator de nossa Rede Globo cuja estréia em Hollywood não apresenta uma única fala; ele aparece atendendo um telefone celular e depois passando-o a outra personagem, mais adiante surfando, logo à beira-mar ouvindo a tagarelice de Cameron antes de ele entrar num carro e sair de cena, finalmente (aparição derradeira) numa corrida de motos que, sabe-se, nada tem de comum com a passeata de motos que encerra Roma de Fellini (1971) (embora o diretor destas panteras seja um citador compulsivo, cuido que jamais passou por sua cabeça, na seqüência das motos, a obra-prima de Federico Fellini, por acaso nesta semana ainda em cartaz na cidade); na cena em que Rodrigo surfa, Drew exclama “Gostoso!” para sua companheira Lucy.

Como colcha de retalhos de todos os lixos cinematográficos, As panteras 2: detonando é um destes filmes ruins necessários para que a indústria do cinema possa existir e, de quando em quando, produzir alguma obra de arte. A má moeda sustenta a boa, lembremos o escritor francês André Gide.

 

Por Eron Fagundes