26 de março de 2007
Meu modelo de interpretação infantil é Ana Torrent em Cria cuervos (1976), uma das muitas obras-primas que o realizador espanhol Carlos Saura rodou em seus melhores anos. Daí por que a garotinha que faz o papel central de Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine; 2006) não passe de uma das muitas bonecas frívolas que o cinema de Hollywood tem espalhado ao longo dos anos; longe da agudez trágica da pequena Ana de Saura, pode-se dizer que o estrelismo vazio da pequena Sunshine obedece aos padrões interpretativos cronometrados para angariar a simpatia de um público pouco exigente.
Nada exigente com a cabeça do espectador é o próprio filme dirigido a quatro mãos por Janathan Dayton e Valerie Faris. O roteiro —uma excursão familiar para a apresentação da pequena e desengonçada modelo, com o acontecimento insólito de, morto o avô, terem de roubar o cadáver do hospital e levá-lo junto até o concurso— poderia render uma daquelas narrativas de humor negro do espanhol Luis Buñuel; mas, diversamente, o que Hollywood propõe é uma jocosidade falsa e tola. Enfim, como vêem, não tenho bons adjetivos para a realização; fiquemos, pois, por aqui.
Por
Eron Fagundes