PEQUENA SENSIBILIDADE AMERICANA
 

 

20 de junho de 2006

Às vezes o cinema americano tem destas coisas. Numa cinematografia voltada para a grandiloqüência dos grandes estúdios, um pequeno filme, miúdo em seu esquema de produção, pode dizer muito mais. Pegunte ao pó (Ask the dust; 2006) é dirigido por Robert Towne, mais conhecido como o roteirista de Chinatown (1974), de Roman Polanski; a valorização perfeccionista do roteiro como esqueleto de um filme está em Pergunte ao pó, desde a acidez desabusada dos diálogos até a estrutura firme da construção da história, passando pelo alinhavar de situações que se costuram quase automaticamente. Mas este mérito inicial da realização é materializado numa direção enxuta e numa exigência precisa com os atores; Colin Farrell compõe com desembaraço seu jovem escritor Arturo Bandini, assim como Salma Hayek dá vida plena a uma garçonete perdida no universo ianque; o complicado caso de amor entre as personagens deve muito de sua veracidade à intensidade dos atores.

Baseado num livro do romancista norte-americano John Fante, Pergunte ao pó lembra a naturalidade de certas narrativas de Sinclair Lewis e J.D. Salinger, com a clareza contundente do primeiro sem as excessivas superficialidades do segundo; como um retrato americano de pequenas vidas, Pergunte ao pó poderia aproximar-se do estilo narrativo de A lula e a baleia (2005), de Noah Baumbach; contudo, Pergunte ao pó quebra um pouco de seu belo ritmo numa articulação meio precária dos desvios de conversa, com o surgimento de personagens secundárias, como a garota vivida por Idina Menzel (que morre num terremoto, causando uma certa melancolia no herói, que tem por ela um interesse diverso daquele que nutre por Camilla mas é mesmo assim um interesse intenso); também a figura do vizinho  interpretado por Donald Sutherland com a voracidade de sempre é meio sem função na história.

De qualquer maneira, levantando os prós e os contras, Pergunte ao pó está acima da média do que se vê habitualmente na programação comercial de cinema na cidade.

Por Eron Fagundes

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