BELEZA PLÁSTICA EM FILME DE FORMAÇÃO
 

 

09 de maio de 2008

Persépolis (Persepolis; 2007), animação cinematográfica dirigida a quatro mãos pelo francês Vincent Parannoud e pela iraniana Marjane Satrapi, baseia-se nos quadrinhos autobiográficos da própria Marjane e pretende, com sua história, traçar um panorama sócio-político iraniano e europeu dos anos 70 aos anos 90 do século passado a partir da visão duma figura feminina iraniana que atravessou os dilemas da Revolução Islâmica enquanto sua própria revolução de adolescente se passava internamente. A partir dos quadrinhos, Marjane e seu co-diretor impõem uma certa beleza plástica, rigorosa e fina, um preto-e-branco despojado que deságua numa igualmente despojada seqüência final a cores na França, mas a esta beleza plástica falta mesmo ousadia formal: o classicismo de formas se converte num ranço acadêmico.

Mas o grande estorvo de Persépolis se concentra na falta de novidades de seu roteiro, melhor dizendo, nas más soluções cinematográficas que os realizadores trazem para uma autobiografia que traça questionamentos sociais e individuais já tantas vezes visto. Esta mão pesada para expor coisas como a questão da revolução ou a situação da mulher no Irã ao longo das décadas acaba por tornar Persépolis, lá pelas tantas, enfadonho.

Não chega a ser um filme inconveniente ou que irrite o espectador; pode-se desfrutá-lo, mas sem volúpia. É tão-somente um filme sem criatividade, emperrado. Talvez carregada pela autoemoção, Marjane colou seus quadrinhos ao cinema e esqueceu-se de expor o algo mais que pudesse dar a seu filme o salto necessário.

Por Eron Fagundes

| topo da página |