19
de janeiro de 2004
Crescer é um
saco, vamos concordar com Peter Pan, a personagem duma história
infantil escrita no início do século XX pelo escocês
J.M. Barrie e que, na era de Freud, tem servido para evidentes
interpretações psicanalíticas. É claro
que uma história há tanto tempo contada e revisitada
não pode mesmo apresentar novidades: Pan é o garoto
que se recusa a crescer e ter responsabilidades, permanecendo
em seu mundo de fantasia e aventuras ingênuas, adorado
pela fada Sininho; seu encontro com a maternal Wendy é marcado
pela melancólica possibilidade duma relação
amorosa em virtude desta recusa.
O
australiano P.J. Hogan, ao rodar seu Peter Pan (2003), estava
consciente destas limitações e expôs todo
o seu esforço nos requintes de produção
para dar uma roupagem contemporânea a um enredo que já preencheu
e encheu as mentes de todas as pessoas que um dia tiveram infância.
O saco é que crescemos, e as facilidades emotivas de um
filme alado como este incomodam aqui e ali a quem se dispõe
a pôr o raciocínio em marcha; mas é possível,
numa leitura mais descontraída, ver a realização
de Hogan com os olhos de sua personagem, Peter Pan, os olhos
de quem se recusa a crescer e tornar complexo seus pensamentos.
É
claro que Peter Pan não chega a ser uma obra satisfatória,
apesar de seus caprichos formais. Mas é bem mais interessante
que os Harry Potter e os senhores de anéis que atualmente
invadem as fantasias das telas. Hogan é menos ambicioso
e por isso muito mais sincero.
Por Eron Fagundes
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