BELEZA PARA FRANCÊS VER
 

 

02 de maio de 2007

As especificidades francesas da realização fílmica Pintar ou fazer amor (Peindre ou faire l’amour; 2005), dirigida pelos irmãos Arnaud e Jean-Marie Larrieu, se evidenciam em todos os ingenuamente delicados fotogramas com que os cineastas pretendem contar mais uma história de liberação ao estilo daquelas que o cinema gaulês vem pondo na tela pelo menos desde os anos 70. Estas especificidades se concentram numa aproximação da imagem à transparência pictórica, no gosto pela banalidade dos diálogos, na lenta observação do cotidiano das personagens; ocorre que estes aspectos já utilizados de maneira magistral por realizadores como Eric Rohmer, Maurice Pialat ou Jacques Doillon, em Pintar ou fazer amor é algo chocho e sem vigor, aborrece seguidamente, falta a guinada dos diretores mais competentes.

É verdade que os Larrieu contam com atores da estirpe de Daniel Auteuil, Sabine Azéma e Sergi López, os quais seguram a peteca quando tudo parece constrangedoramente precário em cena. Mas inegavelmente nenhum destes notáveis intérpretes salva esta pretensa pintura cinematográfica de costumes de um naufrágio estrondoso em ondas de sons e cores.

Nem a utilização das evocações pictóricas (um certo impressionismo) nos enquadramentos dá ao filme a pretendida dignidade. Como estamos longe daquele perfeccionismo de Um sonho de domingo (1984), onde o cineasta francês Bertrand Tavernier convocou os espíritos da pintura impressionista (sob a batuta do cineasta clássico Jean Renoir, filho de um impressionista) para rodar seu filme ainda hoje inesquecível.

Por Eron Fagundes

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