CONTO DE FANTASMAS
eron@dvdmagazine.com.br

9 de setembro de 2003

Os exageros formais do diretor Gore Verbinski, já observados em O chamado (2002), filme de horror visto no início da temporada, tornam a ser verificados em Piratas no Caribe: a maldição da pérola negra (Pirates of the Caribean: the curse of the black pearl; 2003). O gênero das narrativas cinematográficas de piratas teve outrora seus tempos de glória quando Hollywood tinha a fórmula das grandes e coloridas aventuras em alto mar; hoje tudo isto parece um tanto anacrônico, o que se evidenciou quando o cineasta polonês Roman Polansky rodou seu desastrado Piratas (1985).

Verbinski esforça-se por dar credibilidade contemporânea à sua realização. Faz um barulho estilístico danado. O capricho visual hollywoodiano está em seu grau máximo: brilho fotográfico, certas nuanças da câmara (óbvias algumas vezes, mas sempre de imposição plástica), cenas de explosão que apesar do irônico arremedo de batalhas –atores que evidentemente saltam no meio do fogo como se estivessem sendo jogados—não deixam de ferir, ou marcar, os olhos do observador por uma certa grandiloqüência dos planos cinematográficos. O bem-feito americano (eternamente discutível, eternamente enfeitiçador) está intacto: os atores são convincentes para o que tem a fazer e a dizer e especialmente Johnny Deep compõe um tipo curioso de personagem interpretada e rebuscada.

Mas nada destes eventuais engodos retira de Piratas no Caribe a incômoda sensação de futilidade cinematográfica. Algo do cérebro do assistente se perde na dispersão do vazio que é o filme. Chovendo em lugares-comuns, a realização deriva para um conto de fantasmas que, mesmo com todo o seu barulho formal, adota certos modelitos de um cinema B sem o ímpeto de originalidade e frescor dos exemplares que revitalizam a linguagem. Falta a Piratas no Caribe a ousadia mínima para ser algo mais do que uma máquina de embrutecer espectadores.

 

Por Eron Fagundes