DIAMANTES PELO RALO
 

 

21 de abril de 2008

Em Um plano brilhante (Flawless; 2007), filme britânico dirigido com sua habitual elegância clássica pelo inglês Michael Radford, a personagem de Michael Caine, o faxineiro de uma grande empresa londrina no início da década de 60, joga os diamantes que roubou de seus patrões pelo ralo. De uma certa maneira a realização de Radford é um pouco assim: seu fácil brilho formal sai tão facilmente pelo ralo, sobrando pouca coisa para o espectador degustar sem sentir os incômodos cheiros de um bem-feito vazio e fútil.

A história que se conta em Um plano brilhante é a de roubo mirabolante e tem uma atmosfera estilística e temática que atualiza certos conceitos de filmagem do velho Alfred Hitchcock, pasteurizando-os devidamente para o gosto do público atual, como fazia o norte-americano Brian de Palma nos anos 70 e 80 principalmente. A aliança entre o faxineiro de Caine e a executiva interpretada por Demi Moore (visto há pouco caracterizando uma estrela amante de político em Bobby, 2007, de Emilio Estevez) vai desenvolver o ato do roubo como uma explosão de sarcasmo, e este sarcasmo parece pouco verossímil na pele do faxineiro de Caine, que mais está vivendo a si mesmo (o ator Caine) do que se pondo na alma de sua personagem. Na verdade, o filme começa com a ação duma jovem repórter que entrevista a criatura duma Demi envelhecida pela maquiagem; e seu tom inicial é de quem vai relatar o nascimento da mulher moderna no interior dos anos 60. Mas logo esta ação não se sustenta e o foco narrativo vai concentrar-se na figura mal elaborada do faxineiro vivido por Caine; Demi está bem e mais discreta do que Caine, mas sua personagem é só a voz para contar um roubo e um velho do passado que conheceu.

Sabe-se que Radford está longe de ser um cineasta de grandes vôos. O carteiro e o poeta (1994) caiu em determinada época nas graças do público porto-alegrense. O mercador de Veneza (2004) captava com correção o universo do dramaturgo inglês William Shakespeare. Agora, em Um plano brilhante o cinema de Radford revela o esgotamento de seus truques. O possível universo cinematográfico do realizador se desestrutura e se impessoaliza, apesar das facilidades visuais da narrativa.

Por Eron Fagundes

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