O diretor norte-americano Neil LaBute tem chamado a atenção dos cinéfilos com obras bastante conversadas e cheias de um frescor do cotidiano que passa à margem do habitual cinema de Hollywood. O estilo cinematográfico do cineasta é capaz de produzir uma obra mais exigente e autoral como Seus amigos, seus vizinhos (1999) e igualmente uma realização mais concessiva como Enfermeira Betty (2000). Talvez agora, com Possessão (Possession; 2002), o cinema relativamente literário de LaBute tenha atingido um nível de refinamento ímpar dentro duma proposta de estilo mais sujo e libertino como ele vinha executando.
Ao ambientar sua narrativa em dois tempos históricos, o presente e o remoto passado do século dezenove, ligando o par de apaixonados de hoje aos apaixonados de outrora, LaBute parece evocar A mulher do tenente francês (1981), de Karel Reisz, que se valia igualmente deste artifício com a delicadeza britânica que LaBute busca recapturar. Utilizando a palavra e o amor da palavra (a personagem de Gwyneth Paltrow é uma professora de literatura inglesa que investiga a obra duma poetisa, enquanto seu parceiro americano está às voltas com um poeta contemporâneo da poetisa investigada), valendo-se de imagens naturais cuja beleza se assemelha àquela utilizada pelo francês Eric Rohmer em seus filmes, LaBute compõe uma narrativa tão doce quanto apaixonante de acompanhar.
Por
Eron Fagundes