O SUPER-ESTIMADO FRIEDKIN
 

 

19 de setembro de 2007

Cuido que Possuídos (Bug; 2007), o mais novo filme do norte-americano William Friedkin, não tem muitos pontos de contato temáticos com O exorcista (1973), o maior sucesso comercial e artístico do realizador, sem chegar a ser, todavia, nenhuma obra-prima. Possuídos envereda pelo cinema de choque visual, como O exorcista, e apresenta a competência artesanal de Friedkin; mas embanana seus propósitos ao buscar uma espécie de narrativa com um pé na aventura futurista ao inserir a questão dos insetos que picam para quem um telecomando central da humanidade dirija os cérebros (ecos, certamente, das profecias do escritor George Orwell, cada mais atuais, concordo).

Possuídos até que começa bem, com uma linguagem medida que capta a atmosfera cinematográfica, especialidade de Friedkin, cujos filmes sempre tendem a um clima sombrio e perverso. É verdade que o tom oculto de certas intenções do roteiro é vazado em imagens tateantes, divagantes depois, parecendo às vezes que o experimentado Friedkin não sabe o que quer de seu filme. Talvez estas indecisões experimentais demais para o público a que se destina (o público comercial) tenham decretado o fracasso de bilheteria de Possuídos; e este fracasso serve para confrontar as platéias de duas épocas, a platéia dos anos 70 que apreciava o horror e o suspense de Friedkin e a platéia de hoje que parece desligada das bobagens que o cineasta filma com tanta nervura fílmica. Observando a tensão que as pessoas sentiam diante do que Friedkin mostrava nos anos 70 e 80 e dando agora com a ironia e o descaso do escasso público que estava na sessão a que compareci no cinema Victoria para dar uma espiada em Possuídos, concluo pelo anacronismo de Friedkin, que não se atualizou e paga este preço junto ao que realmente importa a cineastas como ele, a bilheteria.

Por Eron Fagundes

| topo da página |