28 de abril de 2008
O filme policial, como o faroeste, é um cinema que exalta a virilidade: violência, tiroteios furiosos e muitas vezes uma montagem agressiva são os ingredientes destas películas. Em muitos casos estes ingredientes estereotipados destroem o “cérebro” dos filmes. É o caso de Os reis da rua (Street kings; 2008), dirigido por David Ayer; poucas vezes se viu tanto desperdício de energia narrativa; veloz e furiosamente, como diz o título de um filme que Ayer roteirizou, o cineasta amontoa clichês sobre clichês para oferecer ao público o vazio absoluto, a falta do que dizer, uma grande burrice cinematográfica.
O escritor norte-americano James Ellroy forneceu a história para Os reis da rua (um de seus contos) e é co-roteirista do filme. Nota-se que seu universo literário se volta para o tenso palpitar criminoso das ruas americanas; alguns diálogos mais diretos e duros evocam que um realizador tão importante quanto Quentin Tarantino aprendeu coisas com Ellroy. Mas Os reis da rua é um desastre onde nada funciona bem; não conheço a literatura de Ellroy, mas o respeito pelas referências fortes que se costuma fazer à sua literatura de submundo, considerada vital no seio das letras americanas. Ele foi adaptado para o cinema em alguns trabalhos badalados como Los Angeles, cidade proibida (1997), de Curtis Hanson, e A dália negra (2006), de Brian de Palma; mas mesmo que se possam fazer reservas ao formalismo industrial de Hanson e De Palma, são criadores bem melhores que esta miopia fílmica apresentada por Ayer.
O que está em cena em Os reis da rua? A velha questão do justiceiro policial propalada antigamente nas interpretações de Charles Bronson ou Sylvester Stallone. O ator Keanu Reeves, com bem menos estofo interpretativo, tenta encarnar esta reencarnação da sanha vingativa policial que se rebela contra os bandidos (animais, referem nos diálogos) e os policiais corrompidos pelo meio. O moralismo de Ayer se evidencia. Mas o problema mesmo é de natureza formal: a precariedade dos truques (ingênuos) do diretor. Reeves é um mau ator que se julga um galã, tudo bem; mas o que o observador pode lamentar é o desperdício do talentoso Forest Whitaker, que tenta dar uma certa forma mais apurada à sua quadradona personagem.
Por
Eron Fagundes