12
de janeiro de 2004
Os
três segmentos da trilogia O senhor dos anéis foram
rodados consecutivamente pelo neozelandês Peter Jackson
em 2001, mas por motivos comerciais foram lançados no
cinema com intervalo de um ano. A sociedade do anel (2001) abriu
nas telas o universo de fantasia do sul-africano J.R.R. Tolkien,
sendo seguido por As duas torres (2002). Agora é a vez
de O retorno do rei (The lord of the rings: the return or the
King; 2003) dar cabo da saga de luz e sombra da caminhada humana
numa terra mítica. A impressão que se tem é de
que se trata de um só filme, tridividido em virtude das
possibilidades comerciais do projeto; em todas as três
realizações são alguns bons corações
humanos que empreendem uma jornada para destruir o mal, a zona
de sombra que é o ente do Um Anel.
O
retorno do rei, talvez até mais do que os episódios
precedentes, se parece com estas aventuras cinematográficas
medievais em que o cinema, em determinada época, se especializou.
O humanismo anacrônico da história contada contrasta
com os avanços tecnológicos da produção
em que uma das principais personagens, Gollum, parece um ator
de verdade mas é uma invenção da era digital
que até atualmente assombra o cinema até em películas
de cineastas tão despojados quanto o francês Eric
Rohmer (A inglesa e o duque, 2001) e o iraniano Abbas Kiarostami
(Dez, 2002).
Requintado
em sua concepção visual, O retorno do
rei busca fixar certos conceitos dos filmes anteriores e acaba
por repetir-se desnecessariamente às vezes, tudo ocultado
por uma plasticidade de quando em quando deslumbrante. A
sociedade do anel, considerando-se a trilogia uma obra só, é uma
narrativa elástica, em que o elástico se gasta
muito facilmente e rebenta logo; as metragens são inegavelmente
excessivas, os quinze minutos finais de O retorno do
rei prometem
concluir a projeção a cada fotograma e desmontam
a beleza plástica com uma questão melodramática
fora de tom.
Assim,
revela-se claramente a ambição da trilogia: é um
espetáculo para o espectador do puro espetáculo. É pena
que pretenda dizer mais do que isto e incorra numa constrangedora
ingenuidade.
Por Eron Fagundes
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