16
de fevereiro de 2004
Já se
chamou o povo americano de tudo, de patriota a arrogante. Eles
são mesmo muito metidos: julgam-se a coroa do mundo. Mas
tem uma fé inabalável em si mesmos, são
competitivos e acreditam com firmeza na vitória. Têm
uma grande capacidade de superação. A quebra da
Bolsa de Nova York em outubro de 1929 parecia jogar a América
numa irremediável miséria; o século XX provou
que os americanos superaram esta doença.
Seabiscuit,
a alma de herói (2003), filme que o diretor
Gary Ross extraiu do livro da jornalista Laura Hellenbrand, começa
fazendo referência a esta quadra difícil da sociedade
ianque: a crise econômica do final dos anos 20. Uma das
conseqüências da catástrofe foi a desestruturação
familiar; uma das personagens centrais do filme, que depois será o
jóquei do pangaré Seabiscuit, é uma vítima
disto: os tempos felizes de reunião familiar à mesa
se foram e seus pais têm de ir embora, deixando-o com outras
pessoas que encaminharão seu talento (como seu pai diz
ao despedir-se do menino). As outras duas personagens que cruzarão
com o garoto também são criaturas detonadas emocionalmente:
o milionário que aposta em corridas de cavalo teve seu
filho pequeno morto ao inventar de dirigir às escondidas
o carro do pai e imediatamente (ele, o pai sofrido) foi abandonado
pela mulher que o culpava do episódio; o treinador de
jóquei é um ensimesmado melancólico. E o
cavalo? Foi treinado para perder visando a dar credibilidade
moral a outros cavalos que seriam os verdadeiros vencedores.
Da reunião destes quatro destroços (três
seres humanos e um cavalo) surge o espírito vencedor,
capaz de curar as chagas. Como se não bastasse, no fim
o jóquei quebra a perna e o cavalo tem o ligamento rompido:
contra todas as possibilidades, corem, assim estropiados, espreitando
a morte, mas vencem na exuberante seqüência final.
Sim,
o ufanismo americano às vezes nos incomoda nesta
pequena aventura de superação. Mas é inegável
que eles tem um senso de espetáculo capaz de funcionar
como neste filme.
Por Eron Fagundes
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