02
de fevereiro de 2004
Em
muitos filmes brasileiros contemporâneos a influência
da superficialidade televisiva se dá de maneira avassaladora.
Jorge Fernando, diretor egresso da Rede Globo de Televisão,
não foge ao padrão visual de seu meio visando a
arrecadar um público certo e conformista: Sexo,
amor & traição (2003) é este monstrengo que saiu das mãos de Jorge.
Daniel
Filho, em A partilha (2001), igualmente um entretenimento descartável, tinha muito mais senso de cinema, o que de
certa maneira ocultava as debilidades temáticas de seu
filme. Jorge está longe da experiência de Daniel:
sua narrativa é um desarranjo visual em que tudo, do sexo às
questões sentimentais, é tratado de modo rasteiro,
ligeiro, constrangedoramente anedótico.
O
elenco é mesmo sofrível e mal dirigido em termos
de cinema. O estrelismo de Malu Mader, Fábio Assunção,
Murilo Benício, Alessandro Negrini e quejandos não
serve para nada. O nível da interpretação
só atinge um sentido cinematográfico quando desponta
em cena Betty Faria, uma estrela certamente mas igualmente uma
atriz que conhece o tom da câmara cinematográfica.
Há sutilezas de direção que a miopia de
Jorge passa por cima. Betty é uma destas sutilezas perdidas.
Por Eron Fagundes
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