APESAR DE RODRIGUEZ, UM FILME CURIOSO
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08 de agosto de 2005

Sin city, a cidade do pecado (Sin city; 2005) é uma narrativa cinematográfica dirigida a quatro mãos pelo quadrinista norte-americano Frank Miller e pelo habitual cineasta ianque de escrachos visuais Robert Rodriguez; e conta com a colaboração como diretor convidado do impagável Quentin Tarantino. O filme transpõe para a tela três histórias contadas por Miller em quadrinhos: O assassino amarelo (yellow, palavra inglesa, tanto pode ser traduzido por cor amarela como por covarde; daí o uso hoje corrente do verbo amarelar em português no sentido de acovardar-se, dar para trás, o que não deixa de ser um anglicismo, para desespero dos puristas), A cidade do pecado e A grande matança. A ambientação de policial negro do cinema hollywoodiano dos anos 40 e 50 do século XX (um preto-e-branco onírico, homens perversos, mulheres sensuais e fatais, um vocabulário e uma sintaxe diretos e potentes) é reconstituída pelo filme a partir de sua inspiração nos gibis de Miller; as três histórias, cujo elo de ligação passa pela violência barroca e cômica e por um jogo atroz entre vítima, bandido e um improvável salvador, são entrecruzadas com habilidade pelos realizadores, impedindo que a trama desande na obscuridade e na confusão a cuja beira o roteiro sempre anda.

A realização de Miller e Rodriguez está longe das inquietações de Anti-herói americano, de Springer Berman e Robert Pulcini com a colaboração do quadrinista Harvey Pekar, este sim um pique elevado que mistura notavelmente a linguagem dos quadrinhos com a do cinema. O cineasta Rodriguez é um exagerado fora de tom: gostaria de ser Tarantino, mas não cresceu e parece um tanto tarde para isto. O pior do filme eu atribuo à participação de Rodriguez: sua mão insensata para a utilização de cenas violentas e exoticamente violentas como fonte de humor. A habilidade narrativa de Miller e a possível intervenção de Tarantino para estilizar o escrachado-violento de seu parceiro Rodriguez são o que impõe Sin city como um filme capaz de despertar no espectador algo mais do que ir ao cinema para curtir um entretenimento descartável. Sem que Sin city perca inteiramente esta característica.

Por Eron Fagundes