15
de dezembro de 2003
O ator-diretor
Sean Penn dirigiu o ator Jack Nicholson num dos melhores papéis
deste em tempos recentes num melodrama policial de clima surpreendente
chamado A promessa (2001). O ator-diretor Clint Eastwood dirige
o ator Sean Penn num dos papéis mais interessantes deste
em muitos anos em Sobre meninos e lobos (Mystic river; 2002),
outro melodrama policial centrado na busca dum criminoso perverso
e desprovido de qualquer sanidade.
O
roteiro de Brian Hegeland é bem armado mas tem lá suas
falhas ou concessões. A superficialidade hollywoodiana
com que são esmiuçadas as razões das personagens
e as fáceis idas e vindas sobre o autor do crime (para
confundir narrativamente os achados do espectador) nada tem de
assombroso, descaracterizando aquilo que chegou por aqui como
uma decantada obra-prima.
Nada
disso. É tão-somente um belo filme policial,
em que Eastwood exercita com habilidade seu jeito de artesão
cinematográfico, revelando especial sensibilidade para
dirigir seus atores, o que compensa certas tiradas mais superficiais.
Sean Penn, Kevin Bacon e Tim Robbins estão admiráveis
em seus desempenhos, mas as mulheres Laura Linney e Marcia Gay
Harden não deixam por menos.
Mergulho
num trauma de infância que vinte e cinco anos
depois marcaria as vidas de três ex-garotos (um deles foi
levado num carro e estuprado, no passado; no presente, outro
deles tem a filha adolescente assassinada, o que foi outrora
seviciado é suspeito do crime e o terceiro deles é o
investigador policial), Sobre meninos e lobos é um entretenimento
recomendável, com um fecho que surpreende mas é inverossímil
e inconvincente. Novamente, como em As pontes de Madison (1995)
e Cowboys no espaço (2000), obras em que o cineasta aparece
diante das câmaras, neste filme em que Eastwood só dirige
constatamos que ele é um diretor apreciável mas
sem transcendência.
Por Eron Fagundes
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